Após 12 anos de análises, um estudo inédito comprovou que a palma (ou dendê, como é conhecida no Brasil), quando produzida em sistemas agroflorestais (SAFs), é mais produtiva e sustentável em comparação com a monocultura. A pesquisa foi realizada em parceria entre a Natura, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), referência mundial em sistemas agroflorestais. O projeto também recebeu um investimento de 4,7 milhões de dólares por meio de uma parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), momento em que o Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF) integrou o time de pesquisa.

Contrariando a crença de que o óleo de dendê não poderia ser cultivado junto com outras espécies, já que não teria bom crescimento e produção, a pesquisa mostrou o oposto: os sistemas agroflorestais apresentaram boa produtividade e geração de serviços ambientais, como provisão de alimentos e matérias-primas, além de minimizar os efeitos das mudanças climáticas. As pesquisas apontam, ainda, que o SAF Dendê pode ser rentável para o agricultor ao permitir a colheita de diferentes espécies além do dendê ao longo do ano.

A monocultura, modelo padrão de plantio do óleo vegetal mais usado no mundo, é frequentemente associada com o desmatamento de florestas tropicais, perda da biodiversidade, poluição pela emissão de gases de efeito estufa e contaminação do solo pelo uso de agrotóxicos. Segundo dados da Aliança Europeia de Óleo de Palma, o consumo global desse insumo cresceu de 14,6 milhões de toneladas em 1995 para 61,1 milhões de toneladas em 2015. O óleo se tornou o mais utilizado no mundo, com a China, Índia, Indonésia e União Europeia no topo dos consumidores globais.

Débora Castellani, gerente científica da Natura foto divulgação

Segundo Débora Castellani, gerente científica da Natura e uma das responsáveis pelo projeto, o grande diferencial é o cultivo de diversas espécies, incluindo árvores, junto com o dendê. “O manejo do sistema agroflorestal permite a incorporação constante de matéria orgânica no solo, o que favorece uma rede de relações entre plantas, solo e micro-organismos. O SAF Dendê é inteligente porque se inspira na natureza e nas relações benéficas de seus componentes, gerando diversos serviços ambientais como a conservação do solo, da água e da biodiversidade”

Ela explica que as práticas regenerativas adotadas no sistema agroflorestal resultaram em melhor fertilidade e alto estoque de carbono no solo, chegando a 50% a mais do que no monocultivo. O manejo agroecológico favoreceu a maior diversidade de micro-organismos – variando de 92% a 238% a mais no SAF Dendê quando comparado com a monocultura -, agentes de biocontrole de pragas e doenças. “O estragol é o principal atrativo do polinizador e está presente em alta concentração (>90%) no aroma emitido pelas flores de dendê”, acrescenta Castellani.

Os cachos produzidos pelas áreas estudadas no projeto já vêm sendo incorporados à cadeia de dendê da região, da qual a Natura faz parte, e, em breve, integrarão produtos com o insumo da agrofloresta