A Brazilian Luxury Travel Association (BLTA) promoveu durante seu  fórum anual,  que aconteceu  entre 28 de outubro e 11 de novembro, uma ampla reflexão on-line com representantes do trade e especialistas sobre o propósito e os desafios da retomada do turismo em um ano marcado pela pandemia do Covid 19. Após intensa troca de experiências, discussões e questionamentos, o evento chegou ao fim apontando caminhos e perspectivas para a hotelaria de  luxo no Brasil.

Pela diversidade dos temas abordados, alguns indícios constatados apontam perspectivas para o setor e uma ‘redefinição’ do conceito de luxo quando se trata de hospitalidade.  Por esse prisma, aos olhos do novo consumidor de luxo ganham mais evidência as viagens com propósito que contribuam para o desenvolvimento das comunidades e destinos, assim como os cuidados com o meio ambiente e os moradores. Além disso, aposta-se na humanização da prestação de serviço por meio de um intercâmbio das relações pessoais entre o anfitrião e o hóspede e a valorização de serviços que promovam bem-estar, saúde e autoconhecimento. Atitudes e caminhos que reafirmam, uma vez mais, que o luxo essencial reside no conforto sem ostentação, no cuidado permanente aos detalhes e na oferta de experiências autênticas e genuínas.

Martin Frankenberg

Em 2019, os associados da BLTA registraram uma movimentação de US$ 1,2 bilhão com a venda de hospedagem, superando as cifras do ano anterior. Um crescimento que também se reflete no aumento da oferta e comercialização de unidades habitacionais: subiu de 1.633 para 2.239 e a venda pulou de 313,6 mil para 428,6 mil, resultando em uma ocupação de 52%. Já em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19, os índices despencaram a partir de março, mas começaram a dar sinais de recuperação em julho e, em setembro, os hotéis BLTA alcançaram a ocupação média de 55% (superior ao verificado em 2019).

Simone Scorsato

“Foi a primeira ação on-line da BLTA e podemos afirmar que superou as nossas expectativas. Criamos, em menos de um mês, um portal não só para a realização de webinares e debates – os Diálogos –,  mas uma ferramenta interativa entre os participantes pela qual foi possível trocar comentários via chat e cartão de visitas, acessar os stands dos associados e patrocinadores e todo o conteúdo (disponível em www.youtube.com/playlist?list=PL_sEPlkB6tT78bZZI8k3D9WhG8RGAPXcL). Foram mais de 35 horas de gravação mostrando e debatendo a diversidade de nosso país”, afirma a diretora-executiva da associação, Simone Scorsato. “Este formato digital permitiu ampliar a nossa voz e o nosso manifesto”, complementa.

Por sua vez, o presidente da BLTA, Martin Frankemberg, aponta outro diferencial em relação à concepção do fórum: “Geralmente, os eventos do turismo de luxo são fechados para um pequeno grupo de agências. Este, porém, teve uma grande diferença, pois foi aberto a um público mais amplo e a gente conseguiu transmitir um pouco sobre o que significa o turismo de luxo para o próprio trade e para a economia do Brasil”, afirma.

O alcance atingido pelo fórum pode ser mensurado em números. De acordo com Simone, somente no dia de abertura – que contou com a participação da presidente do World Travel & Tourism Council (WTTC), Gloria Guevara – reuniu 640 pessoas. Além disso, cada um dos cinco Diálogos (mesas redondas com especialistas) promovidos reuniu, em média, um público de 100 pessoas ao vivo; quanto aos webinares (encontros exclusivos dos associados com agentes e operadores de viagem), a média foi de 300 pessoas por dia.

Outro aspecto que vale ser ressaltado foi o Fee Solidário, uma inovação no processo de inscrição. “Buscamos estimular que os participantes pudessem conhecer e se engajar em projetos sociais. Para isso, incluímos no portal dois projetos – SOS Pantanal e o FAM – Fundação Almerinda Malaquias -, estimulando a adoção de uma inscrição por meio de contribuições espontâneas. Não era uma obrigatoriedade doar para ter acesso ao fórum, mas ao todo foram arrecadados R$ 4.300. Uma soma ainda tímida, mas que representa muito para nós, sem dúvida. Foi uma inciativa que se mostrou eficaz e será adotada de forma permanente em eventos futuros”, antecipa Simone.

Gloria Guevara

Para Gloria Guevara, presidente do WT&TC,“Em nossas conversas com os governos, pedimos a divulgação de dados sobre a reabertura das fronteiras para que o setor tenha uma recuperação mais rápida possível, mas nosso foco também está direcionado para a melhoria das experiências de viagem, deixando-as semelhantes ao período pré-Covid. É necessário reativar a economia global, pois milhões de empregos dependem dela. No Brasil, por exemplo, em 2019 a receita da atividade turística cresceu 3%, índice superior ao 1,2% de crescimento geral do PIB, gerando 7,4 milhões de empregos”

De acordo com a BLTA, alguns dos principais desafios para que o turismo de luxo se desenvolva no país necessitam de urgente atenção. O primeiro deles é a ausência de políticas públicas focadas no turismo sustentável e de luxo. Em termos de infraestrutura, um fator negativo é a falta de conexões e imprevisibilidade da malha aérea brasileira, que, se ajustada, beneficiaria não apenas os deslocamentos internos dos visitantes estrangeiros, mas, também, o público nacional que está dirigindo sua atenção para viagens domésticas, uma vez que está impedido de viajar ao exterior frente às barreiras sanitárias impostas pelo Covid-19.  Qualificação de mão de obra, capacitação de fornecedores e imagem negativa do país (instabilidade política e sanitária) no exterior são aspectos que também pesam no processo de recuperação.

 Para Roberto Klabin, dono do refugio Ecológico Caiman, o turismo sustentável, na abrangência de seu conceito, atua em prol da conservação e da recuperação dos biomas brasileiros e é, com toda certeza, uma das melhores alternativas para atrair estrangeiros. “No entanto, a falta de políticas púbicas que priorizem o turismo como vetor de desenvolvimento nos coloca em desvantagem no cenário internacional. Não acredito que sejamos tão competitivos em praias, pois há opções tão boas quanto em outros lugares do mundo, e a nossa vantagem é a natureza, pouquíssimo conhecida até mesmo pelos próprios brasileiros.”

“Temos potencial fantástico e um tesouro enorme a ser explorado, desde que de maneira responsável. Nosso desejo é fortalecer as operações e chegar a um ritmo semelhante ao que acontece na África, onde essas viagens com foco em natureza agregam muito valor aos ecossistemas.” disse Alex Da Riva, gerente do Cristalino Lodge.

Segundo Melissa Oliveira, .  diretora geral dos hotéis Unique São Paulo e Unique Garden, e vice-presidente da BLTA ,“Agora temos uma oportunidade de repensar o nosso modo de viajar e as relações, alterando a maneira como exploramos até então o planeta, e também de desacelerar. O turismo de luxo trata-se de uma compra muito emocional, de acordo com o momento. Hoje, há uma mudança de valor do ‘ter’ e ‘comprar’ pelo ‘ser’, na busca pela conexão consigo mesmo

Para Simon Heyes, diretor e fundador da Senderos “A ideia é mudar a velocidade das nossas vidas durante as férias. O turismo de luxo continua se transformando e coloca em jogo o tipo de experiência que cada um deseja e qual impacto ela vai deixar no destino.”

Segundo Carlos Ferreirinha, da MCF Consultoria “Falta continuidade e consistência do destino Brasil na comunidade internacional. A estratégia possui basicamente pílulas com pequenas campanhas lá fora, que retornam anos depois. Não importa se é um real ou milhão investido, mas é preciso continuar. O Brasil poderia ser a escola mundial da hospitalidade porque temos o elemento de amar gente e lidar com pessoas. É uma característica genuína, interessante, verdadeira e que transmite afeto.”