Uma pesquisa conduzida por
professores da escola de gestão e negócios NEOMA Business School, da França,
colocou por terra o mito de que o vinho em si é o único responsável pela fama e
crescimento das maiores vinícolas do mundo. 

O trabalho identificou outros
fatores igualmente cruciais para o desenvolvimento de regiões vinícolas: a
aliança entre profissionais em uma rede local, a existência de uma governança
corporativa forte e comprometida, e uma marca única que englobe e beneficie
toda uma região.

O estudo é resultado do
trabalho conjunto de pesquisadores de vários países, que se debruçaram sobre
casos tão diversos como o de vinhedos de renome universal, como os da região de
Champagne (França) ou Rioja (Espanha), vinhedos em mutação como os de Cahors
(França) ou da Armênia, e por fim cooperativas e viticultores espalhados pelo
norte da Itália ou no fértil Vale Bekaa, no Líbano. 

“Cada um dos 18 casos
apresentados conta uma história específica, e nossa abordagem combinou os fatos
reais com a análise teórica dos fenômenos em jogo”, explica  Valéry Michaux, diretora de
pesquisa da NEOMA Business School e  co-autora do projeto.

A NEOMA tem, entre seus
departamentos acadêmicos, um dedicado unicamente à gestão e análise da
vinicultura como negócio, já que uma de suas sedes está localizada em Reims, no
coração da região de Champagne, no nordeste da França.

 

Exemplo brasileiro – A combinação dos três fatores –
aliança entre profissionais, organização em cluster
e criação de uma marca única de valor — estrutura a maneira como os
profissionais dessa rede local podem se complementar, organiza as regras do
jogo e os padrões de qualidade, e regula a cooperação em ações coletivas de
marketing para beneficiar como um todo determinada região produtora de vinho,
explica Valéry 

É o que acontece, por
exemplo, no Rio Grande do Sul, principal região produtora de vinhos do Brasil.
Sob a “marca territorial” Vale dos Vinhedos, 26 vinícolas e 43
empreendimentos ligados ao turismo (hotéis, pousadas, restaurantes, produtores
de queijos e chocolates, ateliês de artesanato, lojas de antiguidades e outros)
trabalham juntos para promover a região como destino turístico ligado ao vinho,
em benefício de todos. Essas empresas estão organizadas desde 1995 na
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), que
zela pelo mercado como um todo.

O Vale dos Vinhedos foi a
primeira região brasileira com classificação de Denominação de Origem (DO) para
seus vinhos. Para merecer o selo, o produtor precisa comprovar que toda a
produção de uvas e o processamento da bebida foram realizadas na região
delimitada do Vale dos Vinhedos, e que também seguiu as rigorosas regras de
cultivo e de processamento da Aprovale. 

O princípio de “cluster”, que pressupõe um
grupo que trabalha junto em prol do desenvolvimento de uma “marca” que
beneficia a todos (embora concorrentes), é o que norteia também o Vale do
Silício, na Califórnia, meca de empresas de tecnologia e start-ups.

A pesquisa vai servir para
que outras regiões produtoras de vinho no mundo repensem seus modelos de
negócio, com os viticultores trabalhando juntos para amplificar suas
potencialidades como marca territorial.