Belicosidade, falta de empatia. Esgotamento de recursos, consumo desenfreado,  despreparo para sedimentar o terreno para as futuras gerações. Supressão da generosidade pelo medo da privação. Em sua coleção de outono-inverno, o Atelier Chilaze traz à tona uma reflexão sobre essas questões.

Com foco no reaproveitamento de resíduos na confecção de acessórios, na criação consciente, na produção manual da resina em colares, brincos, pulseiras, clutches e bolsas, com descarte zero e na combinação dessa matéria-prima com materiais orgânicos como bambu, madeira, palha, linha com tingimento natural e corda de garrafa pet, o Atelier Chilaze se preocupa não apenas com o meio-ambiente hoje, mas com a rota que a humanidade anda tomando rumo ao futuro. Atualmente, tudo se interliga. A prova disso é a crise sanitária atual, causada por uma pandemia amplificada por aspectos cruciais, como a desunião e a negação da solidariedade. O outono da grife carioca de acessórios, comandada pelas irmãs Claudia e Sandra Chilaze, espelha esse momento de pausa forçada que leva à reflexão.

“É hora de darmos as mãos de verdade; temos que usar esse período positivamente para mudar, antes de tudo, nós mesmo, nos reeducando numa batalha interior e exterior por um planeta viável”, avalia Sandra, completada por Claudia, diretora de estilo da marca: “Tenho amadurecido um pensamento do líder indigenista e ativista ecológico Ailton Krenak – autor do livro ‘Ideias para adiar o fim do mundo’ (Companhia das Letras) –, uma sumidade. Em sua sabedoria, aos 66 anos, ele afirma que vida sustentável é vaidade pessoal. Para esse pensador, não serão as pessoas que farão a diferença individualmente, porque agora somos uma força planetária atuando de maneira predatória. É o que estamos vivendo agora. Precisando mais que nunca unir os corações em ações amplificadas para superar esse vírus e outras mazelas que estão por vir”.

“Precisamos pensar de forma benéfica, tirando proveito da emergência. É saudável. Nas imagens da coleção, enfatizamos a questão da máscara, que virou item de luxo nesses tempos endêmicos. Ela tem duplo sentido: é, por um lado, aquela que protege a saúde do corpo contra uma ameaça externa, em nível individual. Mas também é a que nos isola da massa humana, da consciência coletiva, nos impossibilita interagir plenamente, de confiar no próximo. Assim como o capacete de guerra, é proteção que surge do egoísmo. Daí a ideia de fazer florescer aquilo que é estéril, a de usar o artifício que impede de nos intoxicarmos como um alerta, ponto de partida para oxigenar a alma, para resgatar o afeto, para esse respiro tão fundamental agora”, arremata Claudia, destacando como highlights da nova fornada de peças os colares, brincos e pulseiras feitos a partir de canudos plásticos descartados, pintados ou forrados, com flores confeccionadas com restos de sacos de lixo. “O lixo vira o novo luxo, e não dejeto”, finaliza.

Na coleção, correntes em resina foscas e brilhantes – eterno hit da brand –, em novos designs, também forradas em linha e até usadas como alça de bolsa; peças com acabamento em imã, muito firme e que substitui a multiplicidade de componentes de fechos metálicos; pulseiras e aviamentos em macramê; toques de orientalismo; e uma linha de maxi aneis, alguns com trinca de texturas. Na cartela de cores, terrosos como nougat, café, marzipã, areia, marmota, lontra e tartaruga; marrons marmorizados e verdes militares; gamas de especiarias como açafrão, urucum, colorau, páprica e açaí; azuis celestes e aquáticos; e preto. 

Já na linha home, o Atelier Chilaze ampliou a coleção de cestaria adornada com borlas e grelôs, em efeitos coloridos e detalhes em macramê. Tudo handmade, assim como os chaveiros, berloques e espelhinhos de cabeceira forrados, além de uma mini coleção de leques em palha e jogos americanos.