Enquanto se discute a expansão do uso de diesel em veículos de passeio e a dispensa de vistoria veicular no Brasil, com propostas que incentivam o uso de combustíveis fósseis, a alemã Daimler AG, proprietária da marca Mercedes-Benz, acaba de anunciar que deixará de produzir veículos com motores à combustão em até duas décadas.

 

A montadora se comprometeu publicamente a transformar todo o seu portfólio de veículos de passeio e comerciais em modelos elétricos com emissão zero de carbono até 2039, o que coloca a montadora na liderança do movimento global pela descarbonização da economia no setor automobilístico, um dos mais estratégicos para o sucesso do enfrentamento da mudança do clima. Segundo a Daimler AG, essa transformação tecnológica se dará em apenas três ciclos de desenvolvimento de produto, o que não é muito tempo se pensarmos que os combustíveis fósseis dominam a tecnologia automobilística desde a invenção do carro, há mais de 130 anos.

 

O compromisso pelo futuro CEO da Daimler AG, Ola Källenius, e publicado no site da companhia (em inglês). Esse anúncio antecedeu a abertura do 10º Diálogo Climático de Petersberg, um encontro informal de ministros e representantes de 35 países (entre eles, o Brasil) para discutir a implementação do Acordo de Paris e a preparação para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 25, que acontecerá no final do ano em Santiago, no Chile. O encontro acontece em Berlim, na Alemanha, até amanhã.

 

Essa pauta pode ser importante para destacar a consolidação de um movimento recente observado nas grandes montadoras mundiais em torno da eletrificação da frota automotiva. Isso tem sido bastante destacado em mercados desenvolvidos, como Europa e Estados Unidos, e mesmo em alguns emergentes, como Índia e China. No entanto, não se observa a mesma coisa no Brasil, pelo contrário: ao invés de se alinhar à discussão internacional sobre inovação para descarbonização, as montadoras brasileiras parecem estar presas à tecnologia do passado e pressionam o poder público para aliviar as restrições ao uso de diesel em modelos de passeio e diminuir as regulações sobre emissão de carbono e material particulado.